2/06/2008

A gente somos inútil

Pois é, meu amigo autorizou a reprodução de sua mensagem. O título do post seria: "Das gentes inteligentes". Mas neste feriadão momesco ouvi tanto Ultraje a Rigor do meu querido Roger -no próximo post explico o motivo pelo qual ouvi não só Ultraje, mas muito Camisa de Vênus, que nenhum título ficaria mais apropriado do que o que se lê acima. Meu amigo disse que é perda de tempo responder a essa gente louca e que idiotice não existe só entre os esquerdistas, mas entre os que compartilham nossa ideologia também. Concordo com ele. Mas como sou mesquinha, pequena e bem menos educada que ele, resolvi responder a eles, sim. Assim como gosto de lembrar das 20 mil pilas do Professor Luizinho, mais até do que os milhões dos outros.
Está certo que ler coisa ruim faz mal à saúde, mas o fato é que lemos e pronto. Lendo os comentários deste texto e mais deste no blogue do Reinaldo Azevedo, tive a impressão que estava num blogue de petralhas. Não pelo Reinaldo, claro, mas pelos comentaristas que lá escreviam. Eles estavam exageradamente passionais. Leiam que terão a prova. Lembram-se quando o juiz do Supremo Lewandowski num telefonema, testemunhado por uma jornalista da Folha, dizia em outras palavras que o julgamento no STF acerca do mensalão era carta marcada para condenar o pobre José Dirceu? O Diabão tentou se aproveitar da história e queria tentar impugnar a decisão do STF. Saiu como manchete de primeira página da Folha. Calhou que naquele mesmo dia fui ao Rio de Janeiro a trabalho e encontrei um grande amigo meu que é jornalista, quer dizer, colunista. Consideramos estranha a matéria da Folha (estava estranha mesmo). Quando retornei a São Paulo, numa troca de e-mails com um outro amigo jornalista que por acaso trabalha no jornal, comentei que estranhamos a reportagem. Tomei um pito de categoria do moço. Eu escrevi:

"Peço a você, que não deixe os petelhos do jornal dar mais munição para o chefe da quadrilha. Aquele Lewandowski foi de doer. O nosso amigo do Rio também achou aquela história esquisitinha. Acho que você também, não é?"

Aí ele respondeu:

"Em primeiro lugar, não houve nada disso de "petelhos do jornal dando mais munição para o chefe da quadrilha". A Vera Magalhães é uma repórter séria e só cumpriu com a obrigação de qualquer jornalista, que é reportar coisas importantes que tenha ouvido/testemunhado. Se com o "história esquisitinha" -que pra mim não é esquisita, em absoluto; o cara parece mesmo ser um boquirroto- você está querendo insinuar alguma espécie de "combinação" entre ela e o Lewandowski, tire seu cavalo da chuva. Em segundo lugar, não tem nada disso de "munição para o chefe da quadrilha" -pelo contrário, se há alguém que o telefonema compromete é o próprio Lewandowski e, por tabela, o Dirceu. É um ministro do STF fazendo o jogo do que o colega dele, relator, classifica de chefe da quadrilha. Isso é claríssimo. E o Reinaldo Azevedo concorda comigo, se é que você não sabe. :)"

No começo achei que ele ficou bravinho com a história e defendeu seu jornal, mas quando não paramos para pensar é uma caca, não é? Ele, que é bem mais inteligente que eu e extremamente educado e elegante, depois de um tempo me enviou outra mensagem complementar explicando o imbróglio com maiores detalhes:

"Sobre aquela história do "caso Lewandowski", gostaria de deixar claro que jamais faria a defesa corporativista da minha profissão. Pelo contrário: a hegemonia esquerdista nas redações é um fato -na maioria das vezes, nem é militância por este ou aquele partido, mas simpatia a idéias de esquerda, vistas mais ou menos como tão naturais quanto respirar. E é algo que me incomoda, sem dúvida. Ocorre que, nos veículos sérios, essas simpatias da maioria não têm influência alguma no conteúdo do noticiário (falo aqui do jornalismo noticioso, não do opinativo). O mensalão, fartamente coberto pela imprensa -e que, aliás, foi detonado por uma entrevista do Jefferson à Renata Lo Prete, no meu jornal- é apenas um exemplo disso; o dossiegate é outro. Não é à toa que os petistas, com o presidente (atendendo ao pedido de meu amigo querido, o cargo do ser minúsculo deve ser escrito com letra minúscula) à frente, odeiam a imprensa independente e dão toda a força à tal TV pública -chamando, para isso, os "colunistas amigos" que estavam enquistados nessa mesma imprensa. Sem falar na abjeção representada por MC, PHA e outros orgulhosos chapa-branca. Tendo a concordar com o Millôr quando diz "jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e molhados". E a Folha é um jornal mais ou menos assim, programaticamente "do contra". Que tem, evidentemente, seus momentos baixos: a cobertura que a Laura Capriglione fez da invasão da reitoria da USP me deu vergonha (jornalística, mais que ideológica). Mas repito: não fiquei bravo, de maneira nenhuma, com seu comentário a respeito da reportagem da Vera Magalhães. Só a defendi porque a matéria é boa e a Vera é séria."

Quer coisa mais didática que esta explicação? Será que alguém ainda pode pensar que este jornalista é petelho? Então, a partir deste e-mail enviado por este grande amigo, quando leio num comentário que não vão ler mais este ou aquele jornal (sérios, s´il vous plait), ou que TODOS os jornalistas da Folha têm QI de ostra, me dá uma preguiça. Em todos os jornais há esquerdistas de carteirinha. Até no Estadão-ão-ão. Se vocês observarem, em um dos comentários no Reinaldo uma moça chamada Cris diz que se somar o QI de todos os jornalistas da Folha, não dá 30. Engana-se, cara Cris. Este meu amigo, garanto, é inteligentíssimo e mais, não é petralha nem esquerdopata, aliás, está longe disso. Leio a Folha, sim. Reportagens como as dos posts do Reinaldo Azevedo, deixam-me raivosas, óbvio. Mas se a Folha não publicar, vem outro e publica e, claro, lemos, ficando ou não raivosos. Talvez devesse ter dados técnicos mais apurados por parte dos jornalistas que escreveram as matérias? Sim, talvez. Mas crucificar o jornal nada mais é do que os petelhos fazem com o Reinaldão o tempo inteiro, dizendo que ele é -horror dos horrores, pago pela Veja. Só faltava essa, Reinaldo escrever para a Veja aqueles textos primorosos e não receber nenhuma moedinha. A gente somos inútéllll.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu sei de uma história cabeluda do JD. Apenas uma, onde conheço as pessoas prejudicadas. É uma história cabeludérrima, parece mentira. Mas aconteceu.
Por isso, qdo leio posts que mais parecem aqueles roteiros policiais que vc acha-que-entendeu-o-filme-no-final, nem me espanto.
O que acontece nas redações, nos gabinetes e no alto clero is out of my league.

Caipira assumido, fico triste e deprê com isso tudo.

Marie Tourvel disse...

É isso mesmo, Enio. Eu também sou caipirona. Penso que sei um amontoado de coisas e, na verdade, não sei é nada. Recebo até agressões herméticas em posts de blogues sem saber o motivo. Imagina entender o que se passa na cabecinha de redatores de grandes jornais, não é mesmo? Depois você me conta essa história do Tinhoso? Beijos