10/20/2008

Pocket Classic (1)

Sim, volto com minhas séries chinfrins. Vale uma explicação para esta nova. Descobri através de exaustivas pesquisas que milionários não têm tempo para ler crássicos da literatura, mas os mesmos não querem ficar de fora dos papos de intelequituais. É pura bobagem da parte deles. O talento deles já é pra ganhar dinheiro, não precisa dizer que leu os crássicos, não. Mas eles querem ser citados como milionários cultos, então dou minha contribuição. Eu tive tempo de ler tudo quanto é crássico. Infelizmente, não tenho o talento para virar milionária e muito menos sou uma intelequitual. Só li muito e tenho facilidade pra decorar. E estou desempregada, ociosa, esperando o maldito mercado decidir se vai ou se vem. Então, toda semana eu presentearei os millionnaires com um resumo de um livro famoso. Não, milionário, querido, não falarei de Paulo Coelho. E, pelamordedeus, nunca o cite nessas rodinhas, hein? Mesmo que você adorou ter lido O Alquimista, só o cite para ridicularizá-lo. Geralmente os intelequituais pobretões adoram ridicularizar escritores que ficaram milionários escrevendo porcarias.
Já pensou se numa rodinha com aqueles jornalistas intelequituais, porém, pobretões, você fizer um comentário bacaninha sobre Dostoiévski, por exemplo? Eles ficarão impressionados e pensarão: "Puxa, como esse cara é phoda, além de ganhar dinheiro paca, ainda leu tudo o que eu li. Sou um bosta, mesmo". Faça um intelequitual verdadeiro se sentir um bosta. É divertido. Isso não tem preço.
Comecemos, então, com o resumo de um livro daqueles difíceis de digerir. Ulisses de James Joyce. Ele é citado em onze entre dez rodinhas sabichonas. O resumo é isso aí:

Leopold Bloom sai de casa para um enterro e irá percorrer Dublin (é Irlanda, tá? Não a do norte, please... isso mesmo, terra do Bono Vox) durante um dia inteiro, visitando biblioteca, jornal, bordel e bares. No final ocorre o encontro com Stephen Dedalus, um jovem intelectual de Dublin. O Sr. Bloom é o equivalente ao Ulisses (ou Odisseu), herói da "Odisséia" e Stephen, a Telêmaco, seu filho. Assim como na obra de Homero, o herói faz um grande caminho e retorna pra casa, reencontrando o filho, representado por Stephen.

Não esqueça de citar o Bloomsday que é comemorado todo dia 16 de junho (a história se passa nesse dia, entendeu?). Diga que geralmente neste dia vai a um pub em algum lugar do planeta e toma uma Guinness em homenagem a Joyce. Isso impressionará os mais ralés.
Não importa que você não tenha entendido picas. Se começarem a perguntar algo de muito profundo do livro de Joyce, como por exemplo sobre a linguagem inovadora, você diz: "Sinceramente, prefiro Finnegans Wake. É mais denso". Ninguém vai desafiá-lo mais, já que nem os intelequituais mais phodões entenderam direito este último livro. Se eles insistirem, diga que o final de Ulisses com o orgasmo apoteótico de Molly Bloom foi muito interessante. Dê uma risadinha sarcástica. Peça licença, saia da rodinha e vá para outra que estão falando sobre A Divina Comédia de Dante.
Bem, amigos milionários, por hoje é só. Na próxima semana escolho um outro livrão de respeito e tasco a orelha do livro para que você não se sinta desamparado.

Atualização às 14:36hs (horário de Brasília): nem sempre entendem uma ironia ou mesmo uma piada. Portanto, corram neste post da minha amiga lá de Portugal, Júlia. O blogue chama-se "O Privilégio Dos Caminhos". Leiam o blogue da Júlia assiduamente, assim como o de minha outra amiga portuguesa, Ana Vidal, "Porta Do Vento".

22 comentários:

rose marinho prado disse...

Não não pára pára...
Não quero ficar escrevendo aqui toda hora...fico fácil...demais...E além do quê, exponho minha carência...afetiva. Não não...Devo sumir várias semanas..

Mas ai aia ia

Tive enjôo muito forte ao ler este post. Enjôo da alma, não, enjôo da alma é frase clichê. Enjôo mesmo...

Você atirou no alvo. Mas e agora que que a gente faz com essa constatação lúcida?

Bloomsday em São Paulo...Juro , eu acho a Casa das Rosas linda, tem gente boa lá. Mas , Marie Jolie, eu não sei ,,,aquilo me dá um trem na boca no estômago...o nome dos cursos...tudo.

Eu sou o problema. Sim. E vc também. Mais um motivo para eu me afastar da sopa...uns dias.

Beijos

Marie Tourvel disse...

Some não, Rose, querida... Vem sempre. Eu também me senti enjoada escrevendo. Imagine uma tonta como eu dando dicas de literatura pra milionários? Pois é, a gente quer comemorar o Bloomsday e os millionnaires também. Vamos nos divertir, então. Não some, hein?
Eu tô carente de emprego, Rose. Sem trabalhar vou entrar em deprê e nem sei se haverá amanhã do Sidney Sheldon.
Beijos!!!

rose marinho prado disse...

Para conseguir um trabalho

É preciso distanciamento. Esqueça o mercado. Feche os olhos e se imagine maior que ele. Sente no chão, nada de postura em lótus, pode ser de qualquer jeito.

Grave- qq gravador serve- sons de floresta, tigres rugindo, águas selvagens. Aumente o som no mais alto a ponto de a deixar louca . Deite-se no chão e espere. ( isso depois do relaxamento do item anterior). Espere! até sentir uma arrebatadora raiva.

Assopre várias bexigas - dessas de aniversário ( tinha de ter comprado, esqueci). Até elas estourarem. Os ouvidos ficaraõ e perição de miséria e os lábios com gosto de borracha. Umas 500. Depois, molhe as mãos num balde de tinta, pode ser azul, pq vermelho é meio batido.

Bata as mãos numa das paredes da sua casa. Várias vezes. Volte ao chão e olhe o desenho que as mãos fizeram na parede.

Repita tudo durante o dia todo. E quando vier a noite você descobrirá que é mais fácil enfrentar o sistema, colocando 'na bandeja' o seu talento e indo vendê-lo na feira do mundo e, servindo-o até aos idiotas...É mais fácil enfrentar a carência de emprego do que a falência dos órgaos.

Eu pensava isso hoje indo tomar café na rua...

Anônimo disse...

adelaide carraro? bonjour, marie

Marie Tourvel disse...

Bom isso, Rose, querida. Bom exercício. Começarei pelas mãos cheias de tinta nas paredes. Posso virar uma artista plástica moderna. :))))
Obrigada pelo carinho e eu sabia que você voltaria. Já disse que a gente precisa marcar um café, isso sim.
Beijos!

Marie Tourvel disse...

Pensei na Adelaide, anã paraguaia. :P
Bom tê-lo aqui hoje, Quincas, querido.
Bisous et bonjour.

Roger disse...

Marie, num cocktail ou numa vernissage, pergunte ao milionário intelectual prêt-à-porter se ele aceita um uísque Alan Sokal 12 anos. Você perceberá que, imediatamente ele pedirá para ir ao banheiro, onde poderá tranqüilamente consultar o Google através de seu iPhone.

AC disse...

Oi, Marie! O que eu acho mais legal do Bloomsday é que o pobretão do Joyce criou a mais ambiciosa e monumental declaração de amor da história da humanidade, ao "eternizar" o dia em que ele conheceu a Nora num livro inteiro passado nesse dia. Eu acho isso lindo, uma vida q cabe num dia, um dia como a síntese da saga humana - uma saga cuja chave é o amor, o desejo - Joyce nos induz a pensar. E poir aí vai... beijos

Marie Tourvel disse...

Santo gugól, Batman!
Ei, Roger, querido, e não é isso mesmo? ;)
Dêem um pulinho no blogue do Roger, além de ser ótimo, tem um vídeo de rolar de rir por lá. :)))
Beijos!!!

Filipe de Santa Maria disse...

Marie, que altruísmo invejável. Ajudando os milionários necessitados sem esperar nada em troca. Isto é sempre o caminho mais curto para o autoconhecimento. Parabéns pela iniciativa. Só assim construiremos um mundo melhor. Um beijo! rsrs

Marie Tourvel disse...

Ai, Antonio, que saudades...
Olha, eu penso exatamente como você, mas não podemos contar para os milllionnaires, meu amiguinhos. Mais um segredo: eu adoro um pobretão intelectual, sempre me interessei por eles. Se for cabeludo, então... Mas só não pode ser lulopetista e adorador do Che. Apesar que intelectual de esquerda é que nem o Padre Quevedo fala: isso não ecziste. ;)
Beijocas pra você.

Marie Tourvel disse...

Cê vê, Philippe? Eu, essa reaça da pior qualidade, realizo um baita trabalho social voluntário. Isso ninguém vê, né? Ô, raça!
Feliz por tê-lo aqui, meu grande amigo.
(E não deu pro Massa mesmo, né?)
Um beijo, querido.

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

:-))

Querida Marie, você é um sucesso! :-))
Já li duas vezes e vou tresler, como mandava Quintana. Essa do Paulo Coelho está na mouche. Do Ulisses, escaquei a rir. Não haverá prazer maior que deixar de boca aberta um intelectual, é verdade. Sabe que meus amigos às vezes se divertem perguntando-me sobre escritores que não existem? Adoram ver-me fazer de babaca, como vcs dizem.

Ainda estou a rir aqui do seu post.

Marie Tourvel disse...

E não é assim, Júlia, querida? O pior é que não entendem a piada. Mandei todo mundo lá no seu blogue para tomar um banho do Marcel. hahahahahah.
Adorei sua visita e vamos rir que é sempre o melhor remédio (frase clichê, porém, limpinha) ;)
Beijos!!!

Anônimo disse...

Oi Marie,

Para mim, sua ajuda vem bem a calhar, afinal, não sou rica e tampouco intelectual. Sorte minha... não sabia de nada disso aí. Mas não esquecerei do dia 16.

Não entendo como certas pessoas gostam de parecer o que não são... acabam enfiando os pés pelas mãos. Tão mais simples ser simples.


Fui lá no Pedro. Já conhecia o poema. A meu modo. rs... Agora fez uma difrença...


Beijos!
:)

Marie Tourvel disse...

Sabesselá, sabesselá... acho que você está me enganando, hein? Rica de carinho eu sei que você é... Inteligente também é... Sobre o dia 16 acho que você sabe, sim. ;)
É mais simples não saber nada. Tudo é mais fáil quando não se sabe nada. Sabe o "só sei que nada sei"? É o melhor, vá por mim...
Pra variar o Pedro arrasa, né? Ele, sim, sabe de tudo!
Beijos!

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

Marie,É mesmo assim!

se soubesse como conheci os livros do Paulo Coelho!! Logo que tenha tempo farei um post sobre isso :-)



beijinho,amiga :-)

Marie Tourvel disse...

Aguardo seu post ansiosamente, Júlia, querida. :)
Beijos!!!

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

Marie, esse Pedro é o tal que comprou a antologia poética de Cecilia Meireles? ;-)

Marie Tourvel disse...

Ele mesmo, Júlia. É bacana vê-lo recitar as poesias, não é? Eu aprendo bastante com ele, lá n´O Indivíduo. :)
Um beijo, querida

Anônimo disse...

Achei você!

Marie, como diz um amigo meu, Finnegans Wake, nem o Joyce leu!

Eu prefiro só beber Guinness, tem muito mais sustança.

beijocas

Marie Tourvel disse...

Raquel, querida, que bom que você me encontrou. Adorei ter conhecido você.
(Para todo mundo entender, a Raquel tem um blogue maravilhoso sobre Jane Austen e nos encontramos na palestra do JP Coutinho no IICS aqui em São Paulo)
E não é mesmo que o Finnegans nem o Joyce entendeu ou leu? :) Concordo plenamente com você sobre a Guinness -embora eu pouco bebo, viu...
O seu blogue já estará nos queridinhos da Marie e quero receber muitas visitas suas, está bem?
Um grande beijo!