1/23/2009

Do conformismo



Então, ela conversou por telefone com um grande amigo. Amigos daqueles que nos conhecem como ninguém. Daqueles que pelo seu tom de voz sabe exatamente qual é o seu estado de espírito. Ele sempre apresentou a ela a realidade, o pé no chão. Uns o chamam pessimista ao extremo, outros, como ela, percebe o realismo, nem pessimista, nem otimista. Apenas realismo. Ele sempre fez com que ela percebesse as roubadas em que se mete, as quebradas em que se encalacra, os buracos em que se afunda justamente por sonhar acordada.
Estava a conversar com ele sobre seus erros, suas contradições e seus desencantos e ele, sobre os dele. Vivem assim, cheios de contradições, mas quando se conversam por um instante ela coloca seus pés no chão, os tira das nuvens, pois sabe que só as negras aparecerão aos seus pés.
Fazia tempo que não conversava com ele. Fazia tempo que andava nas nuvens negras. Ele reapareceu, assim, do nada, para lhe contar de suas mazelas, de seu cansaço, de sua letargia. Ela sempre quis ser como ele. Ele se conforma, se adapta à situação e pronto. Ela ainda luta e é por isso que ele diz que ela é uma estúpida. E ela concorda. Disse a ele que desta vez não seria mais estúpida, se conformaria com as migalhas que recebe. Ele não acreditou nela. Como sempre. Mas algo os aproximava. Ela queria ser como ele. Ele queria sentir a sensação dela, assim, como um experimento. Ou como uma lembrança. Ela disse que queria sumir, ir embora, ir pra longe e que talvez nenhum lugar trouxesse satisfação. Ele queria o mesmo, mas não tinha a esperança da satisfação. Era conformado. Ela precisava se conformar.

Ela acordou no dia seguinte sem a sensação do "por enquanto". O "por enquanto" virou nunca mais. Era a realidade. O realismo. As lágrimas caíam simplesmente porque ela não aceitara até então o "nunca mais". Agora ela sabia de verdade que era nunca mais. Agora ela sabia que o "nunca" existe e que a vida dela já não valia mais nada. Se conformar, então? Se conformar, então.

E agradecia mais uma vez ao amigo. Até quando? Até sempre. Para isso o sempre existe.


18 comentários:

Anônimo disse...

Putz, me vi na pele do "amigo conformado". Mas só me conformo conforme a necessidade (eu acho). Enfim! Mas eu não me conformo pq a srta. nao me avisou que tinha voltado, tsc... Mas deixo bjo assim mesmo, tá? :-D

rose marinho prado disse...

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Marie Tourvel disse...

Shi, querida, foi uma grande falha essa minha. É que eu ia escrever só um post, daí voltei... os comentaristas pedindo. Eu ainda recebendo e-mail pedindo minha volta. Você me perdoa, amiga? Eu adoro você e sabe disso, não é? ;) Estou me conformando cada vez mais com minhas mazelas. Isso é bom? Sei lá. Um grande beijo e não fique brava, ´tá?

Marie Tourvel disse...

Rose, querida,

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Beijos!!!

Johnny na Babilônia disse...

Vc escreve tão bem....

Beijos!

Marie Tourvel disse...

Você que é um amor, né, Johnny, querido?
Eu acho que escrevo bem, mas de forma muito "pobrinha" para a blogosfera. Mas "a gente tentamos". ;)
Está tudo bem por aí?

Beijos

Anônimo disse...

Lindo texto. Digno das pessoas de quem ele trata. Um beijo grande.

Marie Tourvel disse...

Obrigada, Jana, querida. Tentei reroduzir as mazelas e os desencantos das pessoas envolvidas e repetir a mim mesma que o "nunca mais" existe. Fui apresentada ao "nunca mais" você sabe quando. :(
A conformação fará parte da vida das pessoas envolvidas no texto e da minha, também. Para quem estava acostumada ao "por enquanto", o "nunca mais" veio em forma de tsunami. É da vida.

Beijos e obrigada por tudo. :)

Anônimo disse...

As nuvens negras são necessárias para que haja uma mudança, se vc acha que o sol sempre vai estar lá, não se mexe!! Cabe a nós sabermos enfrentar as transformações que a vida nos apresenta e fazer com que os fatos tenham valido a pena!! Ahhhh e como é bom se conformar conversando com um ‘amigo daqueles que nos conhecem como ninguém’!!!

Marie Tourvel disse...

Isso lá é verdade, Lilian, querida. A gente sempre sabe que o sol estará nos esperando só na espreita. A droga é que o sol não tá aparecendo por aqui, não. ;)
Sim, sou impaciente e desesperada. Tenho que mudar isso. Dá tempo? Pode ser. Mas o bom de tudo isso é que esse amigo é pra sempre. Com ou sem sol.;)

Beijos

Anônimo disse...

É, do conformismo, ouvi tua doce música, e minha alma se transformou numa águia, e voou para o sudeste da Asia, e voltou no tempo vendo lá de cima o sangue de inocentes escorrer pela selva, e pradarias da beleza do lugar. Também li o texto nostálgico combinando com a música que retratava a tristeza daqueles corações vituperados pela maldade humana, e como não se pode voltar no tempo físico, também senti-me conformado, e triste. Prazer em ouvir tua voz Marie, e pude confrontar a voz, com a foto sorridente, com dentes claros, límpidos e perfeitos... que beleza em estar no estado alfa da alma! Você consegue!

VHS.

Marie Tourvel disse...

Vitor, querido. É sempre um prazer recebê-lo por aqui e ler seus comentários sempre tão bonitos.
Quanto ao meu sorriso bizarro e minha voz de rinite... bem, não preciso dizer mais nada, né? ;) (Marie envergonhada)

Beijos e apareça mais, tá? :)

Anônimo disse...

Marie Marie... O Sol sempre está aí!!! Às vezes não sabemos espantar as nuvens... mas Ele está!!!! Sempre esteve!!!
Bjs

Marie Tourvel disse...

Quero aprender a espantar as nuvens, Lili, querida. :)

Beijos

Anônimo disse...

Marie, tenha um bom domingo, um domingo feliz como diz a música que vc postou uma vez aqui!!! Lindo!

Beijos, querida!

vhs.

Marie Tourvel disse...

Obrigada, Vitor, querido. Pra você também.
E cante comigo... "ah, ah, ah, hoje é meu diia, eu vou ter, ter, ter o seu amooor. Para ser, ser, ser, feliz ao seu laaaado. ah, ah, ah, que dia feliz... Meu domingo alegre vai ser..." E por aí vai...
Desculpe, meu lado bananeiro prevaleceu. :)))

Beijos, querido

Anônimo disse...

Não querida! Vc está longe de ser BANANEIRA, como eu também não sou, pois nasci, nascemos na melhor parte da AMERICA, vc não acha?
SOMOS FELIZES, e não sabemos?

Beijos.

VHS

Marie Tourvel disse...

Vitor, querido, confesso a você que meus planos não incluiam nascer necessariamente neste lado da América, mas se não tem remédio... :)))))
Um beijinho da Marie