4/07/2009

...e ninguém vai nos perdoar




Domingo. 20:30hs. Cruzamento com rotatória de uma rua aparentemente sossegada. Um carro pára para que eu passe. Normal. Passo. Vem uma F-250 gigantesca -e parecia maior do que é, e passa pelo meio da rotatória numa velocidade fora dos padrões. Eu passando e a F-250 conseguiu frear a uns 5cm do meu carro, que embora seja grande, uma Scènic, não suportaria uma porrada. Eu não suportaria a porrada. Eu morreria. Parei meio atônita. Um rapaz de uns trinta e poucos anos desce da F-250. Seu rádio ligado muito alto ouvindo axé. Meio atordoado pede milhões de desculpas. Percebo que sua voz sai enrolada. Estava visivelmente embriagado. Olho para ele e digo: "Se beber, não dirija." Sigo meu caminho ainda tremendo. Uma sensação de vazio. Coração disparado. Em outros tempos eu desceria do carro e ficaria muito brava com o rapaz. Diria uns impropérios e muito nervosa sairia xingando. Domingo não fiz isso. Talvez porque no momento da freada que cantou os pneus da F-250 preta eu me vi morrendo. Passou pela minha cabeça rapidamente a iminência da morte. E não doeu tanto. E pensei que não faria diferença para ninguém se eu morresse. Algumas pessoas tristes por alguns dias e a vida seguindo normalmente. Esperando suas mortes, também. Perdi o medo da morte no último domingo. Por me considerar matéria a vontade de viver é forte, mas a idéia de morte já não me assusta mais. Não me considero mais imprescindível. Pura arrogância de minha parte ter me considerado até o último domingo, importante.
E o pior, morreria com a trilha sonora do Chiclete com Banana.

Na madrugada de domingo para segunda sonho com um certo alguém. No mesmo cruzamento. Enquanto falo com ele, dando-lhe explicações, olho sempre para o lado porque sinto que algo se aproxima. Nós estamos discutindo. Ele insiste numa pergunta e por fim me diz o que quero ouvir. Quando enlevada de felicidade pulo em seu pescoço para abraçá-lo, vem uma F-250 preta e nos atropela. Acordo chorando. Choque de realidade. Percebo que minha conversa com o "certo alguém" é ilusão. Nunca acontecerá. Já a F-250 preta é a realidade. E ela vem para dar um "presta atenção" em mim.

ADENDO: Hoje é dia de meu Pocket Classic no "Porta do Vento" da minha querida Ana Vidal. Stendhal com seu vermelho e negro. E olha que Stendhal não era flamenguista. Devia torcer para o Milan - não são essas as cores do time do Silvio Berlusconi?, rosso e nero? Choque de realidade no romance de Stendhal. Choque de realidade na quase porrada de domingo. Choque de realidade no meu sonho.

26 comentários:

Alma disse...

Mariiiie, que chocante essa sua near death experience! Passou filminho na cabeça? Ainda bem que você ainda está entre nós, aposto que muito mais gente do que você pensa sentiria sua falta. E quem sabe você não mudou a vida do boy fã do Chiclete para sempre e agora ele vai parar de beber, vender a F250, só escutar gospel e viver com Jesus no coração? Se não anota a placa e passa pra gente que eu convenço ele na delicadeza.
Cuide-se!

E tenho uma sugestão, você podia fazer um Pocket Movie Classics tipo para explicar Breakfast at Tiffanys para quem assiste Transformers e Rambo...

Beijos
Fernano

Shi disse...

Marie, me perdoa, mas este foi um dos teus posts mais engraçados da (minha) vida do Letras! Morrer ao som do Chiclete com Banana, definitivae literalmente, seria A MORTE! kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk :-S
Bjo (xeuir lá na Ana)! :-D

Raquel disse...

coincidência... o pequeno sorel também foi impassível para morte...

Marie Tourvel disse...

Em primeiro lugar, perdoem-me pela demora nas respostas aos comentários. Eu ainda mato quem comanda o speedy.

Fernando, querido, foi choque mesmo. Não passou filminho na minha cabecinha. Apenas pensei que não estava com medo de morrer. Me achei desimportante, realmente. Não acho que o boçal aprendeu a lição. Acho que ainda ele mata um. Não anotei a placa, não tive essa presença de espírito.

Que idéia maravilhosa essa do Pocket Movie Classics, hein, Fernando. Gostei demais. ;)

Bisous!

Marie Tourvel disse...

Já pensou, ShicaMaria, morrer com uma trilha sonora dessas? Eu não mereço. ;)
Que bom que achou engraçado. Eu também achei. :))))

Espero que tenha gostado do Flamengo. ;)

Beijos, querida

Marie Tourvel disse...

Muita coincidência, né, Raquel, minha querida?
Eu só sei que foi punk passar por isso.

Beijos!

Shi disse...

Marie, eu gostei do teu PC lá na Ana, mas num sei o que é, eu nunca consigo comentar por lá :-S Acho que só consegui uma vez, no tempo que o vermelho e negro ainda era azul e ouro! :-| Deve ser problema de BO (burrice da operadora), né? rs. Bjo, querida!

Marie Tourvel disse...

Olha, Shica, querida, eu não sei o que pode ter acontecido. Vai perguntar logo pra mim que sou uma tecnocapivara? :)))))
Acho que você tem que colocar que não é do sapo. Acho que é isso. Mas se leu espero que tenha gostado pelo menos um pouquinho. ;)

Beijos e muito obrigada pelo carinho.

QuincasB disse...

jean sorel levava jeito de tricolor, bonjour marie

William Campos da Cruz disse...

Curiosamente, e num sentido totalmente oposto, lembrei-me da Macabéa. Você, talvez por ter-se safado, tenha tido a sensação de que é desimportante. A Macabéa, por ter sido atingida, teve a sua hora da estrela.

***
Sumi por uns tempos. Oscilo entre um tempo de introspecção e a correria do trabalho. Mas sigo a vida. E feliz!

***
Viktor Frankl costuma falar, na tradução truncada da edição brasileira, do "Caráter de algo único" do homem. Só existe um de você. E, ainda segundo Viktor Frankl, a vida é apenas uma oportunidade para fazermos coisas dotadas de sentido. Taí, se eu puder sugerir uma leitura, o Dr. Frankl faria um bem danado!

***
Abraço, saudades!

léo e só disse...

oi Marie.

Pro um quase hien? e vira essa boca pra lá. Como disse o Fernando, tem gente sim que iria sentir falta de vc.

não vamos deixar esse cinismo da desprentensão, a la século XXI, nos agarrar de jeito.

abs querida

PS: Essa lei anti-bebida foi mais que inutil. Sem fiscalização pra que serve?

PS2: Agora tem a tal lei anti-tabagismo. Logo via ter a a lei anti-carne, até a ditadura do bom mocismo.

PS #: Não, eu não fumo. Mas é vergonhosa essa lei.

Marie Tourvel disse...

Alguma insinuação por considerá-lo tricolor, Quincas, querido? ;)

Bisous

Raquel disse...

Marie, minha filha, mais do que um GPS precisamos mesmo é de uma AK47.

Marie Tourvel disse...

Macabéa. Nem pensei nela. Talvez por ser um romance da Clarice que não tenha gostado tanto. Mas faz sentido. Já pensou eu na primeira página do jornal morta num acidente destes? E olha que ia ser no Diário de São Paulo, já que a Folha não perderia o tempo dela comigo. :)))))

Fico contente por você estar bem, mas não some, não. ;)

Boa dica de leitura. Vou correr e ler. Obrigada.

Beijos, William, querido.

PS: e o nosso café, hein?

Marie Tourvel disse...

Leo, meu lindo, bom saber que você sentiria falta de mim. ;)

Não adianta nada mesmo essas leis. Já tinha uma lei e não tinha fiscalização. Agora fizeram uma lei mais rigorosa e a fiscalização ferrenha durou pouco. Fazer o quê?

Vão enfiar o bando de fumantes onde, hein? Lei idiota mesmo. É essa onda pentelha do politicamente correto. "Eu não fumo, eu não bebo, eu não transo, eu não como carne, eu voto no PeTê, eu vegeto." Este é o lema deste bom mocismo. :)))))

Beijocas

Marie Tourvel disse...

Acho que um GPS e mais uma AK47 resolveria nossos problemas, Raquel, querida. Exterminaríamos os boçais de F-250 pretas, ouvindo Chiclete com Banana e bêbados. :)))))

Beijos!

Jana disse...

Está proibida de passar em rotatórias, combinado? Bj.

Marie Tourvel disse...

Ando muito rotatória mesmo, Jana, querida. Preciso me enquadrar. ;)

Beijos!

Anônimo disse...

"Si bebes, no conduzcas", que dijo Stevie Wonder y Doña Marie al "rapacinho".....

Marie Tourvel disse...

Isso mesmo, filomeno, querido. :)

Beijocas

Roger disse...

Há regras sem exceções: só idiotas escutam voluntariamente "Chicletes com Bananas".

Marie Tourvel disse...

Concordo mesmo, Roger, querido. Só idiotas fazem um sacrilégio deste. ;)

Tudo bom por aí?

Um grande beijo.

Julio disse...

Stendhal era flamengo sim.

Flamengo é atemporal, não tem localidade nem se prende a limites culturais nem de linguagem.

Ou alguém duvida de que "O Vermelho e o Negro" fala do Flamengo?

www.maisumblogdoflamengo.blogspot.com

Marie Tourvel disse...

O Flamengo. Eu gosto do Flamengo. Mas eu gosto do Fluminense, também. Meu pai, no Rio, era Fluminense até morrer. Mas eu confesso, não entendo muito de futebol, não. Acredito até na regra "perigo de gol". :)

Beijos, Urubu, querido.

Julio disse...

Te entendo Marie

Meu pai tb era tricolor....

Estamos à disposição p qq assunto de ordem futebolística

Beijão e SRN

Marie Tourvel disse...

Vou me aproveitar de você, Urubu. Agora já sei a quem perguntar sobre a maldita regra do impedimento. ;)

Beijocas