5/19/2009

Nós somos ridículas

K..., assim, com K e dois ll é minha amiga. Trabalhamos juntas, também. Dificilmente se faz amigos no trabalho. Eu fiz alguns, mas a K... é de longe, a melhor. Todo dia saímos juntas em direção à terra de ning. Batemos nas portas de clientes que não têm a menor educação. Mas sempre descobrimos que existe escrotice por todo lado até nos bairros de São Paulo mais ou menos vizinhos de ning. A K... é uma grande frasista, embora nem tenha consciência disso. Na semana passada, batemos lata até não poder mais. Durante quatro dias fomos num mesmo estabelecimento cobrar uns documentos do dono dele. Nunca tinha sequer um cliente comprando algo por lá. Ele estava sempre encruado numa salinha e vinha nos receber com cara de... ning. E dizia sempre que os documentos não estavam por lá, mas sim, com sua mulher. Nitidamente ele tem medo da mulher. Na última sexta-feira, saindo novamente de mãos vazias, eu virei para a K... e disse: “Eu não volto mais aqui, o cara está sempre ocupado com nada e não nos atende direito. Dane-se ele.” K... lança sua frase de efeito de novela mexicana: “Nós somos pobres, mas temos dignidade.” É para rir. E muito. Rimos. E muito.
No mesmo dia, eu disse a ela: “a gente tá rindo de quê, K...? Estamos f... num banco que só pelo sangue de Jesus; confiamos em pessoas horrivelmente falsas; temos 1 milhão de amigos, na sua grande maioria, desgraçados; trabalhamos num ramo em que a maioria fica milionária porque faz falcatruas, mas não nós, porque somos honestas, de boa índole, trouxas, pra falar na linguagem correta. Rir de quê e pra quê?” E as hienas continuavam a rir. K..., sem pestanejar lança: “Nós somos ridículas.” Pronto. Mais risadas. E assim o estado letárgico vai se incorporando novamente em mim. Esqueço tudo o que me fizeram em meus momentos ditos lúcidos e caio na risada. Muito melhor que chorar por gente que não merece nem um sorrisinho meu, nem uma piscadela internética minha. E tudo isso porque nós somos, realmente, ridículas. E a K... ainda disse que se continuarmos neste ritmo, em breve, cortaremos nossos pulsos.
Ontem, o ning me chamou no Nextel dizendo que os documentos estavam prontos. K...., olhando para o Nextel, tasca: "Nós somos ridículas, mas você também é."

Música ridícula para terra de ning e bairros de São Paulo adjacentes (Smoke On The Water em ritmo de cha-cha-cha? Faz todo sentido. Olha onde cê foi parar, Blackmore):



ADENDO 1: Pocket Classic no Porta do Vento. Socialismo Para Milionários do Shaw, aquela gracinha. Culpa? Tinha, mas acabou.
Música para o livro (Poderia ser com os Bítous, mas não consegui a música inteira com eles. No espírito do "vamos cortar os pulsos", vamos de Barret Strong mesmo):



ADENDO 2: ainda na sua luta, querido, leve em consideração, também, que, segundo a K... com dois ll, eu sou ridícula e feito uma Dorothy Parker ordinariamente risonha, não consigo nem cortar os pulsos.

RESUMO (Dorothy Parker):

Giletes machucam;
rios são úmidos;
ácidos mancham;
drogas dão cãimbras.
Armas são ilegais;
nós escorregam;
gases fedem
Acho melhor você viver.

24 comentários:

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

encantadoramente ridiculas, isso sim! E que bom que é ser ridiculo dessa maneira.

beijinho, amiga!

Mike disse...

Marie, assim você e a K vão comer só sopa até ao fim de vossas vidas. É que eu vou aí e levo todas as facas que estão em casa. E garfos também, para não terem ideias. (risada ning)

Marie Tourvel disse...

Júlia, minha amiga querida, que saudade de suas visitas. Eu e K... nos divertimos muito mesmo.
Está tudo bem por aí?

Beijos!

Marie Tourvel disse...

Eu e K... esperamos sua visita por aqui ansiosamente, Mike, querido.
E você jamais será ning. Você é um amorzinho. ;)

Beijos!

rose marinho prado disse...

O grande segredo é ver ver ver . E não ficar surpreso. E nem nervoso .
Eu fico falando assim : "Como é que pode?Como é que pode?". E tendo impetos de vingança, de lutar pra mudar as coisas. Senão, processar, sim, o direito é o tapete sobre a sujeira. É unica saída.
Fui lesada, um corretor me seduziu com um plano de saude, eu tinha outro, com carencias cumpridas. Ele disse que o outro era melhor e comprava as carencias. Ontem soube que estou no plano novo como cliente nova !( não migrada de plano antigo) e sujeita a carências.Sem plano, pois não.
"Estou feliz ,minha mulher está fazendo enfermagem" - foi o que o biltre disse, quando veio vender o plano.
Decerto, a minha adesão pagou um mês da facu da mulé dele.
E agora? Socos no ar? Desgaste em processar o cara?

Sigo na fila da penitência. Este é um país de bandidos, a perífrase vale, Marie.

R. B. Canônico disse...

Ora Marie, as vezes eu penso que ser ridiculo é o que foge do padrão. Isso fica estranha e até ridículo muitas vezes.

Eu devo ser um cara completamente ridículo para muitos, mas tento ser coerente na minha bizarrice. Ao menos, como vcs, eu consigo dar boas risadas e colocar a cabeça no travesseiro com paz na consciência, sem fantasmas a me atormentar!

As vezes eu acho tão chato ser igual a maioria, o que me deixe contente por não o ser em muitos aspectos!

Beijos e ótima semana!

Marie Tourvel disse...

Rose, querida, todos os dias nos deparamos com pilantras pelas ruas. Meu pai sempre dizia que todos os dias sai de casa um otário e um malandro, quando os dois se encontram já dá pra prever o que acontecerá, não é? Eu sou otária, fazer o quê? Porque por aqui honestidade é sinônimo de tolice. Mas não mudo. Prefiro assim. ;)

Beijos!

Marie Tourvel disse...

Rodolfo, que saudade. :)
Eu já nem ligo por ser ridícula. E dou risada, sim, de minhas mazelas. Por muitas vezes rio e choro ao mesmo tempo. Porque rir o tempo todo já é doideira, não é? ;)

Que bom que veio me visitar, querido.

Beijos!

Anônimo disse...

Gata, pensei em escrever algumas coisas que iam ficar chatas se não fosse você, quem eu acho que vc é, mas pedi uma segunda opiniào e segundo o MEU amigo secreto que não tem K nem ll(Kollor????) tudo indica que sim, é você. Malucassssa. Isso aqui é segredo é?

Frodo Balseiro disse...

Marie, todos nós somos profundamente ridículos!
Por nós, entenda as pessoas mais sensíveis e de mente aberta, que conseguiram atinar à sua finitude e pequenez.
O dia a dia é ridículo, o que se tem que fazer no trabalho, as pessoas medíocres com quem temos que conviver, ou mesmo, das quais dependemos, por N razões, fazem de nós, pessoas ridículas.
Mas pessoas ridículas são (para mim) mais interessantes. Saber da grande comédia da vida, é apanágio de poucos especiais, "et pour cause", ridículos.
Viva a Ka com dois eles, viva você sempre, atormentada pelo ridiculo da vida de que fazemos parte!
beijos

Marie Tourvel disse...

Anônimo, cê tá insistindo numa coisa que não é real. Aliás, se leu algo por aqui deve saber que é tudo ficção ou fiquição. Ou quase tudo.
Gata? Malucassssa? Biruta pode até ser, mas gata?

Marie Tourvel disse...

Frodo, querido, você se divertiria muito saindo comigo e com a K... para mais um dia de trabalho. Porque nós somos ridículas, mas temos diguinidade! :))))

Fico sempre com saudades de você.

Beijos!

Mike disse...

E aí, moças diguinas? Parem um pouco de trabalhar e se divirtam senão ficar coroas rápido. Coroinhas, pronto. :)))

Marie Tourvel disse...

Pois é, Mike, querem nos separar. Eu e K... não vamos mais juntas para a terra de ning. Terei que ir sozinha. Ela será transferida para uma terra muito pior que ning. :(
Mas lutaremos para que ela continue na terra de ning comigo. Afinal, a gente quer continuar trabalhando, mas rindo um pouco que isso não faz mal a ninguém. E não ficaremos coroas tão rápido. A K... é uma menina e eu tenho alma de. ;)

Volto em breve, prometo. Dá um pulinho aqui no domingo. Oferecerei uma música só pra você. ;)

Beijos!

Mike disse...

Nossa!!!... que é isso, Marie? Quem é o cafageste que aprontou essa separação?... pois, eu sei que a prudência... isso, não fala nada. Mas fala para a K que estou solidário e domingo, com um agrado assim seu só para mim, virei aqui sim. :)

QuincasB disse...

um beijo te esperando na mesa do canto, à direita de quem entra no algonquin: bonjour, marie

Marie Tourvel disse...

Existe muita gente malvada nesse mundo, Mike. :)
Eu e K... sabemos que você é solidário.
Amanhã eu volto.

Beijocas!

Marie Tourvel disse...

Entrei no Algonquin, olhei à minha direita. Sorrindo, estou me encaminhando à mesa. ;)

Bisous et bonjour, Quincas, mon cher.

MIKIO disse...

Olá querida.

Saudades de você! ;)

Beijos.

Marie Tourvel disse...

Eu também, Mikio, estou com saudades, você sumiu... Acho que eu também sumi, né? Apareça e eu apareço, combinados? ;)

Tá tudo bom por aí?

Beijocas!

ana v. disse...

Eu também sou da turma dos ridículos, Marie. Mas olha: pelo menos sabemos rir, e até de nós próprias! Não paga contas, eu sei, mas dá muuuuuito gozo. Esse pessoal desonesto da terra de ning não tem graça nem sabe rir de porra nenhuma, nem que o Mel Brooks invente piada só para eles...

beijo :-)

Marie Tourvel disse...

É verdade, Aninha, nem se os Monty Python viessem pra fazer um show em ning, não ririam. E rir de mim mesma é meu mote. :)

Adoro receber você por aqui. :)

Beijos!

ana v. disse...

Ah, sobretudo desses não ririam... o pessoal de ning não entende piada inteligente!

beijinho

Marie Tourvel disse...

O pessoal de ning não entende piada nenhuma, querida Ana. :)

Beijocas!