É estranha a sensação de querer que o outro esteja enterrado sem ter morrido. Mais estranha ainda é a vontade de dormir um sono profundo até que o outro morra fisicamente para chorar a ausência literal. Até que as lágrimas cessem por completo. Diante de ausências que aparentemente representariam alívio, só há a necessidade de abrigo. Quem dará o abrigo? Ninguém. Nem mesmo o irmão, nem mesmo o amigo. Nem mesmo o desconhecido. Nada. Vazio. Resta a realidade de estar morta e que alguém por descuido ou mesmo compaixão lhe enterre.
Um poema de Sylvia Plath.
Edge
The woman is perfected.
Her dead
Body wears the smile of accomplishment,
The illusion of a Greek necessity
Flows in the scrolls of her toga,
Her bare
Feet seem to be saying:
We have come so far, it is over.
Each dead child coiled, a white serpent,
One at each little
Pitcher of milk, now empty.
She has folded
Them back into her body as petals
Of a rose close when the garden
Stiffens and odors bleed
From the sweet, deep throats of the night flower.
The moon has nothing to be sad about,
Staring from her hood of bone.
She is used to this sort of thing.
Her blacks crackle and drag.
Tradução:
Limite
A mulher está perfeita.
Seu corpo
Morto enverga o sorriso de completude,
A ilusão de necessidade
Grega voga pelos veios da sua toga,
Seus pés
Nus parecem dizer:
Já caminhamos tanto, acabou.
Cada criança morta, enrodilhada, cobra branca,
Uma para cada pequena
Tigela de leite vazia.
Ela recolheu-as todas
Em seu corpo, como pétalas
Da rosa que se encerra, quando o jardim
Enrija e aromas sangram
Da fenda doce, funda, da flor noturna.
A lua não tem porque estar triste
Espectadora de touca
De osso; ela está acostumada.
Suas crateras trincam, fissura.
4/05/2009
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7 comentários:
O tempo é abrigo.
Amigo é abrigo. Amigo amigo.
E o tempo é implacável, também, Rose, querida.
Um grande beijo.
O tempo é implacável com tudo.
Com as dores, com amores...
:(
Com tudo, Mikio, querido, com tudo.
Um beijo
Adoro Sylvia Plath.
Principalmente agora que quando leio os poemas dela lembro da Gwyneth Patrow (assim que escreve?). rs
Beijos.
Acho que tem um "l" no sobrenome da moça, Mikio, não tenho certeza. Ah, esses nomes complicados... :)
A Sylvia Plath é deprê total, mas tem hora que é bom lê-la pra colocar nossos pés no chão e tirar as mãos dele, né? ;)
Beijos
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